A Igreja Católica celebra a festa de Santo Estêvão no dia 26 de dezembro, um dia após o Natal, para destacar a conexão profunda entre o nascimento de Cristo e o testemunho de seus mártires. Este posicionamento litúrgico tem raízes históricas e teológicas no desenvolvimento da tradição cristã, revelando a importância de Santo Estêvão como o primeiro mártir da Igreja e como um modelo de fé e coragem para os fiéis.
Santo Estêvão: o primeiro mártir cristão
Santo Estêvão, escolhido como um dos sete primeiros diáconos da Igreja (At 6,1-6), dedicou sua vida a servir a comunidade cristã, especialmente os mais necessitados. Seu testemunho de fé culminou em seu martírio, narrado no livro dos Atos dos Apóstolos (At 7,54-60). Ele foi apedrejado até a morte por proclamar Jesus como o Messias e condenar a dureza de coração de seus perseguidores. Antes de morrer, Estêvão declarou profunda união com Cristo ao perdoar seus algozes, dizendo: “Senhor, não lhes impute este pecado” .
A ligação com o Natal
A celebração de Santo Estêvão imediatamente após o Natal não é uma coincidência. A Igreja, ao organizar o calendário litúrgico, quis destacar que o nascimento de Cristo traz consigo um chamado radical ao discipulado, que pode exigir até o mesmo o sacrifício da vida. Santo Estêvão foi o primeiro a testemunhar com sangue sua fé no Salvador recém-nascido, cumprindo a profecia de que Cristo seria um “sinal de contradição” (Lc 2,34).
O Papa Emérito Bento XVI explicou que a festa de Santo Estêvão ilumina o mistério do Natal: “Enquanto contemplamos o Menino Jesus nos braços de Maria, somos chamados a fixar o olhar no testemunho de Estêvão, que nos mostra como viver em coerência com o dom de Deus, colocando Cristo acima de tudo.” Assim, a alegria do Natal não se limita ao nascimento de Cristo, mas se expande na missão de seguir seus passos, mesmo nas adversidades.
O martírio como expressão do amor cristão
O martírio de Estêvão não foi apenas um testemunho de coragem, mas uma manifestação concreta de amor cristão. O Catecismo da Igreja Católica (n. 2473) afirma que o martírio é “o supremo testemunho da verdade da fé”, e Santo Estêvão personifica essa verdade ao unir-se ao sacrifício de Cristo. Celebrar sua festa após o Natal ensina que o amor encarnado em Cristo nos chama a uma entrega total a Deus e ao próximo.
A tradição da festa
A veneração de Santo Estêvão é uma das mais antigas na história da Igreja. Desde o século IV, a Igreja no Oriente e no Ocidente celebra o seu testemunho. A proximidade com o Natal reflete a tradição de associar o nascimento de Cristo com o surgimento dos primeiros frutos de sua missão redentora. O martírio de Estêvão, testemunha de fé e caridade, ressoa como um convite a todos os cristãos para viverem plenamente o Evangelho.
A festa de Santo Estêvão, celebrada logo após o Natal, destaca a continuidade entre o nascimento de Jesus e o chamado ao discipulado radical. Estêvão nos lembra que a alegria do Natal vai além das comemorações; ela é um convite a testemunhar Cristo em nossas vidas, com coragem e amor, mesmo diante das perseguições. Seu exemplo ecoa na história da Igreja como um símbolo de esperança e fidelidade ao Senhor que veio ao mundo para nos salvar.