Ao longo da história, a mulher foi vítima de condicionamentos de toda ordem e em diversos âmbitos sociais que resultaram na violação da sua dignidade, impedindo-a de contribuir positivamente com os destinos da humanidade por meio de seu potencial feminino. Quantas mulheres não foram e ainda continuam sendo valorizadas apenas pelos seus atributos físicos em detrimento de sua competência profissional, sua inteligência, sua sensibilidade e de sua própria dignidade?

É certo também que, durante essa jornada, muitas foram as lutas pela garantia de direitos sociais, econômicos e políticos das mulheres, em respeito à dignidade feminina e ao seu papel na sociedade. São João Paulo II reconhece: “foi um caminho difícil e complexo e, por vezes, não isento de erros, mas substancialmente positivo, apesar de ainda incompleto devido a tantos obstáculos que, em diversas partes do mundo, se interpõem não deixando que a mulher seja reconhecida, respeitada, valorizada na sua peculiar dignidade”[1] (grifo nosso).

Esse caminho “não isento de erros” em busca da inserção da mulher em espaços de representatividade social ganhou, nos últimos tempos, uma nova disposição a partir do movimento conhecido como “empoderamento das mulheres”, em que se pleiteia a emancipação feminina, dando-lhe poder para reinar sobre a própria vida. Revestido de interpretações ideológicas contrárias aos princípios cristãos, tal movimento põe em risco a dignidade da mulher, sobretudo porque traz no seu bojo uma compreensão de que a realização pessoal se dá a partir da satisfação de interesses egocêntricos e individualistas e pautados em valores seculares quando, na verdade,  “é no doar-se aos outros na vida de cada dia, que a mulher encontra a profunda vocação da própria vida, ela que talvez mais que o próprio homem vê o homem, porque o vê com o coração”[2].


Nesse contexto, é Maria, a Mãe de Jesus e nossa Mãe, que se apresenta para nós como inspiração de mulher plenamente realizada. Ela, cujo ser foi envolvido pela sombra do Altíssimo e, cheia do poder do Espírito Santo, “pondo-se ao serviço de Deus, Ela colocou-Se também ao serviço dos homens: um serviço de amor. Este mesmo serviço permitiu-Lhe realizar na sua vida a experiência de um misterioso, mas autêntico « reinar ». (…) O seu « reinar » é servir! O seu servir é « reinar »!”[3]

Que a necessária e justa luta para que as mulheres conquistem seus direitos e atuação nos mais diversos espaços sociais continue sob o signo desse “reinar”, para que o gênio, a sensibilidade e os talentos próprios da feminilidade sejam postos a serviço do bem da humanidade e que, assim, as mulheres, sejam aquelas, cuja contribuição é mais visível e reconhecida na sociedade, sejam aquelas que atuam no ordinário escondido do dia-a-dia, encontrem no poder do servir a plena realização, tendo Maria como modelo e mestra.

À Igreja cabe apoiar as mulheres nesse difícil processo de respeito e valorização, e, conforme escreve João Paulo II na Carta apostólica Mulieris dignitatem — “render graças à Santíssima Trindade pelo ‘mistério da mulher’ — por toda a mulher — e por aquilo que constitui a eterna medida da sua dignidade feminina, pelas ‘grandes obras de Deus’ que, na história das gerações humanas, nela e por seu meio se realizaram”.[4]


[1] Mensagem de Sua Santidade João Paulo II para a celebração do XXVIII Dia Mundial da Paz. Disponível em: https://www.vatican.va/content/john-paul-ii/pt/messages/peace/documents/hf_jp-ii_mes_08121994_xxviii-world-day-for-peace.html.

[2] Carta de João Paulo II às Mulheres. Disponível em: https://www.vatican.va/content/john-paul-ii/pt/letters/1995/documents/hf_jp-ii_let_29061995_women.html.

[3] Ibidem.

[4] Carta Apostólica Mulieris Dignitatem do Sumo Pontífice João Paulo II sobre a dignidade e a vocação da mulher por ocasião do ano mariano. Disponível em: https://www.vatican.va/content/john-paul-ii/pt/apost_letters/1988/documents/hf_jp-ii_apl_19880815_mulieris-dignitatem.html.


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