Compreendemos perfeitamente que na Quaresma somos, de forma muito particular, convocados à conversão da vida.
Porém, se quisermos nos converter de verdade, a primeira coisa a fazer é ter a coragem de descer ao próprio coração, ao próprio interior, ao qual só Deus e a nossa consciência têm acesso. “É de dentro, do coração” (cf. Mc 7,21a), diz Jesus. Nunca é demais recordar que, “na Bíblia, o coração é a sede de toda a vida íntima do homem: seu pensamento, sua memória, seus sentimentos, suas decisões”[1]
Não basta, portanto, ficar nos gabando de não ter feito isto ou aquilo. De não ter cometido este ou aquele pecado. Quem pensa assim, muito provavelmente não desceu ao seu interior, de onde procedem todos os pecados.
Para que realizemos esse movimento de descida ao best latpop for abulton users, necessário para responder ao apelo central deste tempo litúrgico, abordaremos os pecados capitais, começando hoje pelo pecado da soberba.
A soberba ou a vanglória pode ser definida como “um desejo desordenado pela própria excelência e por fazer as coisas do próprio jeito, em vez de fazê-las conforme a vontade de Deus”.
A pessoa soberba apresenta as seguintes características: faz as coisas, e até com excesso de perfeccionismo, motivada pela intenção de receber elogios e glória para si mesma; tem resistência à opinião dos outros, pois julga que sabe tudo; não admite ser corrigida; tende a culpabilizar os outros pelos seus próprios erros, não reconhecendo as suas faltas e, por causa disso, apresenta a dificuldade em pedir perdão; por último, é propensa a sentir-se melhor que os demais.
A virtude oposta à soberba é a humildade.
As seguintes passagens bíblicas são contundentes sobre a necessidade de se cultivar essa virtude: “Deus resiste aos soberbos, mas dá sua graça aos humildes” (1Pe 5,5b-6); “A arrogância precede a ruína, e o espírito altivo, a queda” (Pr 16,18) e o episódio do Fariseu e do Publicano (Lc 18,9-14).
O maior exemplo de humildade, no qual devemos nos inspirar, em primeiro lugar, para vencer o orgulho, é Jesus. Ele tinha razões para se orgulhar, pois era Deus. No entanto, o que disse e o que fez? “Não procuro a minha glória”(Jo 8,50); “Aprendei de mim que sou manso e humilde de coração(Mt 11,29)”; “Não vim para ser servido, mas para servir e dar a minha vida em resgate por muitos” (Mt 20,28); “Estou no meio de vós como aquele que serve”(Lc 22,27); O episódio do Lava-Pés (Jo 13,1-17) é o exemplo emblemático que Jesus nos deixa para vencer a soberba, pois “ele, que é de condição divina, (…) despojou-se, tomando a condição de servo” (Fl 2,6-7a).
Outros personagens bíblicos nos servem de inspiração para combater a soberba: Maria, que tinha razões para se orgulhar, uma vez que fora preservada do pecado e trouxe o próprio Deus em seu ventre e, no entanto, afirmou: “Eis aqui a serva do Senhor”(Lc 1,38), correndo apressadamente para servir Izabel, logo após a Anunciação; João Batista, que coerentemente afirmou:“Convém que ele cresça e que eu diminua”(Jo 3,30) e Pedro, querecebeu de Jesus “as chaves do Reino”, converteu uma multidão com sua pregação (em Pentecostes), realizou curas prodigiosas, porém, ao chegar à casa de Cornélio, reconheceu: “Sou apenas um homem” (At 10,25).
Senhor, manso e humilde de coração, dai-nos um coração semelhante ao Vosso. Amém.
Vavá Silva
Consagrado da Comunidade Remidos no Senhor
[1] BÍBLIA TEB, p. 1264