“Este é o meu Filho amado, no qual pus todo o meu agrado. Escutai-O!” (Mt 17,5)
A Transfiguração do Senhor ocupa um lugar central na espiritualidade cristã. O Evangelho nos apresenta esse acontecimento como um vislumbre da glória de Cristo, antecipando a Ressurreição e fortalecendo os discípulos para os momentos de sofrimento e cruz. Ao subir ao monte com Pedro, Tiago e João, Jesus revela quem Ele é de fato: o Filho eterno do Pai, revestido de luz e glória.
1. Um evento real e teológico
O relato da Transfiguração aparece nos três evangelhos sinóticos (Mt 17,1-8; Mc 9,2-8; Lc 9,28-36) e possui um profundo valor teológico. Jesus sobe a um monte elevado — sinal de encontro com Deus — e ali se transfigura diante de seus discípulos. Seu rosto brilha como o sol, e suas vestes tornam-se resplandecentes como a luz. Moisés e Elias aparecem ao lado d’Ele, representando a Lei e os Profetas, que agora convergem plenamente em Cristo.
Segundo o Catecismo da Igreja Católica:
“A Transfiguração dá um vislumbre da vinda do Reino de Deus: ‘foi na Transfiguração que a Trindade apareceu: o Pai na voz, o Filho no homem, o Espírito na nuvem luminosa’” (CIC, 555).
Neste evento, Deus Pai atesta publicamente a identidade divina de Jesus e exige dos discípulos uma atitude fundamental: escutá-Lo.
2. A pedagogia de Deus no discipulado
Jesus prepara os discípulos para o escândalo da cruz. A Transfiguração ocorre pouco depois do anúncio da Paixão. Deus, com sua ternura, revela a glória do Filho para que os apóstolos, fortalecidos pela visão da majestade, não esmoreçam diante do sofrimento.
A tradição espiritual da Igreja sempre viu nesse episódio uma pedagogia divina: antes do sofrimento, Deus nos dá consolos. Antes da cruz, Ele revela a glória. Santo Tomás de Aquino ensina que a Transfiguração foi necessária para que os discípulos “não perdessem a fé ao verem Jesus sofrer”.
3. A montanha como símbolo do caminho espiritual
A montanha elevada representa o caminho da oração, do silêncio e da contemplação. Para ver a glória de Cristo, é preciso subir, ou seja, sair da planície da superficialidade e entrar na intimidade com Deus. A nuvem luminosa que cobre os discípulos é sinal da presença do Espírito Santo, o mesmo que guia o cristão no caminho da santidade.
O Papa Bento XVI afirma:
“A Transfiguração convida-nos a abrir os olhos do coração para o mistério da luz de Deus, presente em toda a história da salvação.” (Homilia, 6 de agosto de 2006).
4. Implicações espirituais para hoje
A Transfiguração não é apenas um evento do passado. É uma realidade presente que se atualiza especialmente na Eucaristia, onde Cristo se manifesta em sua glória sob as aparências humildes do pão e do vinho. É também um chamado à conversão constante e à escuta obediente do Senhor.
Cada cristão é chamado à sua própria “transfiguração interior” pela graça, pela oração e pela comunhão com Cristo. Como diz São Paulo:
“Todos nós, com o rosto descoberto, refletimos como espelho a glória do Senhor, e somos transformados nessa mesma imagem” (2Cor 3,18).
5. Conclusão
A Transfiguração do Senhor nos revela a verdadeira identidade de Jesus e a vocação última do cristão: participar da glória de Deus. Escutar o Filho é o caminho para essa transformação. O monte Tabor se torna, assim, o símbolo da meta da nossa fé: a união plena com Cristo glorificado.
Que esta cena luminosa desperte em nossos corações o desejo de contemplar o Senhor, escutá-Lo com docilidade e segui-Lo com fidelidade, mesmo nos momentos de cruz. Pois, com Ele, a dor jamais terá a última palavra.