A palavra “vocação” significa chamado. Portanto, se se trata de um chamado, compreendemos que há alguém que chama. Assim, a origem, a fonte do chamado é Jesus e não o discípulo. É verdade que, em Israel, existia o costume em que os homens desejosos de aprender a viver conforme a Lei escolhiam seus mestres, como hoje se escolhe uma escola, uma faculdade.
No entanto, o seguimento a Jesus Cristo se dá por meio de um chamado feito pelo próprio Mestre, conforme ele mesmo faz questão de afirmar: “Não fostes vós que me escolhestes, mas fui eu que vos escolhi”[1]. Desse modo, não se escolhe uma vocação porque se tem vontade. As pessoas vocacionadas são “separadas”, ou seja, foram reservadas para Deus, pertencem a Ele. Essa prerrogativa, na verdade, é de todos os cristãos, mas, na vida de quem tem uma vocação específica à consagração, distingue-se porque a pessoa assim eleita leva às últimas consequências a sua entrega ao Senhor.
A vocação também pode ser definida como uma procura, uma busca por Aquele que é a nossa origem, pois no homem há um anseio por Deus justamente porque, no fundo, é o Senhor mesmo que o chama: “Oh! Deus, vós sois o meu Deus, com ardor vos procuro”[2].
Certa vez, Jesus se dirige a dois discípulos de João que o seguiam perguntando-lhes o que eles procuravam e eles responderam a Jesus com outra pergunta: “Onde moras?”[3] e Jesus, categoricamente, respondeu-lhes: “Vinde e vede”[4]. No processo de descoberta da própria vocação, é fundamental conhecer o Senhor, conviver com Ele, provar do seu amor de salvação e contemplar a beleza de um Deus que se deu completamente por amor, pois somente quando o homem se deixa conquistar por Deus é que ele se dispõe a segui-Lo. Por isso, o caminho mais seguro para descobrirmos nossa vocação é a relação com Deus, com Aquele que nos chama.
Além do mais, alguém que recebe um chamado de Deus para uma vocação deve ter clareza a respeito de algo: não se pode seguir Jesus sem abdicar de seus planos pessoais. A uma pessoa que se mostrava disposta a seguir Jesus, porém Lhe pediu permissão para antes ir se despedir dos seus, Jesus disse: “Quem põe a mão no arado e olha para trás não é apto para o Reino de Deus”[6]. Isso significa que a vocação tem a primazia sobre todas as coisas, sendo, pois, totalizante, uma vez que consiste em um seguimento que compromete a vida por inteiro.
Uma conhecida canção de Pe. Zezinho consegue, de forma impressionante, expressar como se dá uma resposta concreta a um chamado vocacional:
Há um barco esquecido na praia
Já não leva ninguém a pescar
É o barco de André e de Pedro
Que partiram pra não mais voltar
Quantas vezes partiram seguros
Enfrentando os perigos do mar
Era chuva, era noite, era escuro
Mas os dois precisavam pescar
De repente aparece Jesus
Pouco a pouco se acende uma luz
É preciso pescar diferente
Que o povo já sente que o tempo chegou
E partiram sem mesmo pensar
Nos perigos de profetizar
Há um barco esquecido na praia
Um barco esquecido na praia (2x)
[1] Jo 15, 16.
[2] Sl 62, 2a
[3] Jo 1,38
[4] Jo 1,39
[5] Mt 4,19
[6] Lc 9,62