
Todos os anos, durante a Semana Santa, meditamos e revivemos a Paixão do Senhor; às sextas-feiras, contemplamos a Via Sacra, fazemos penitências e jejuns. Vivências e práticas que se estendem ao longo dos anos e nos conduzem ao conhecimento do sacrifício de Jesus pela salvação da humanidade, oportunidades para adentrarmos a profundidade do maior dos mistérios divinos: a Redenção.
Talvez alguns de nós considerem que bastaria Jesus ter assumido a condição humana, revelando-nos a face misericordiosa de Deus, através de seus ensinamentos, testemunho, curas e libertações, para que fôssemos salvos. Muito cristãos chegam, inclusive, a rejeitar o que a cruz simboliza: sofrimento, humilhação, injustiça, crueldade… É muito difícil compreender por que Deus quis que Seu Filho assim fosse tratado.
Segundo Sousa [1](2022), para nos aproximarmos da compreensão desse mistério, é preciso antes reconhecer a gravidade do pecado original cometido pelos primeiros pais, Adão e Eva, condenando homens e mulheres de todas as gerações “à privação da amizade e da Glória de Deus”, representando “uma recusa formal e deliberada a relacionar-se com o Criador e a obedecer-lhe”. É necessário ainda lembrar que Deus, além de misericórdia é também justiça e, diante de tão grave ato, se fez necessária a reparação. Assim, movido pela misericórdia, Deus não desistiu da humanidade, concebendo a Salvação. No entanto, por ser justo, não poderia deixar de trazer às consciências a dimensão de tão dramática ofensa.
Assim, ao permitir que Jesus, o SEU ÚNICO FILHO, justo e irrepreensível diante dos olhos divinos, passasse por via tão dolorosa atingindo as dimensões psicológica, física e até espiritual, consuma-se o sacrifício perfeito: o SIM de Jesus à Vontade do Pai repara o Não dado pelo primeiro homem e mulher.
Dessa forma, a “paixão e morte do Senhor segue a lógica sacrifical presente no Antigo Testamento (cf. Ex 12, 1-28; Lv 16, 1-19; 22, 17-20;23,12) . Trata-se, pois, de um procedimento pedagógico para ficar claro o que Deus estava fazendo pelos homens: oferecendo seu Filho em sacrifício pelo pecado de uma multidão. O sofrimento de Jesus é uma linguagem, para indicar quem é Deus e como Ele ama, até que ponto é capaz de rebaixar-se para alcançar a ovelha que se perdeu” (SOUSA, p.53, 2022).[2]
Diante da insondável grandeza e profundidade da Redenção, faz-se necessário que aproveitemos bem todas as ocasiões que somos levados a contemplá-la, a atualizá-la em nossas vidas: contemplar a cruz, Jesus ferido por nossas culpas, prova do amor Supremo, que redime, transforma, salva; adorar e comungar Jesus Eucarístico, atualização no hoje de nossas vidas desse sacrifício de amor que cura e liberta. A encarnação de Jesus, sua morte e ressurreição, permitiu-nos o retorno à amizade de Deus, uma vida ordenada pelo Evangelho, a harmonia antes vivida no paraíso. Permitiu-nos assim constatar que a obediência ao Senhor é caminho de salvação, felicidade e paz plena.
[1] SOUSA, Ronaldo José de. A porta estreita.
[2] Idem