Entre seus ensinamentos, um dos que Jesus mais insiste diz respeito ao perdão. Aliás, o sacrifício de Jesus na cruz é o ato, por excelência, do perdão de Deus dado à humanidade e que lhe garantiu a reconciliação com o Pai.

Mas, perdoar não é algo tão fácil, especialmente se já passamos pela amarga experiência de perdoar a mesma pessoa por diversas vezes e de sermos continuamente feridos por ela. Então, feridos que estamos, é possível que sejamos dados a cultivar o ressentimento, mesmo contra alguém que tenha errado para conosco uma única vez.

Assim, o nosso coração se enche de queixas e, mais que isso, corremos o risco de interpretar as ações dos outros, contra quem alimentamos ressentimentos, de forma equivocada e distorcida, gerando o problema de atribuir “a tudo a mesma gravidade, com o risco de tornar-se cruel perante qualquer erro do outro”[1].

E, quando assim nos portamos, não é verdade que no nosso coração se instala a tristeza, o desassossego, a falta de paz? E essa contenda que brota no nosso interior tende a desaguar nas relações interpessoais, causando fraturas no âmbito comunitário da família, do trabalho, do grupo religioso, de amigos do qual fazemos parte, entre outros.

Para perdoarmos o nosso irmão, é imprescindível que façamos a experiência permanente de sermos perdoados por Deus a partir de um reconhecimento profundo de que somos pecadores. Isso nos leva a experimentar o alívio e a paz que brota do Amor que perdoa e que salva, do Amor que sempre nos dá uma nova oportunidade para recomeçar.

Somente assim seremos capazes de acolher e abraçar o nosso irmão com suas fraquezas, fazendo o que nos convoca o apóstolo Paulo: “suportai-vos uns aos outros, e se alguém tiver algum motivo de queixa contra o outro, perdoai-vos mutuamente; assim como o Senhor vos perdoou, fazei o mesmo, também vós”[2].

Mais que perdoar o irmão, é preciso reconciliar-se com ele. A reconciliação retira fardos pesados que se acumulam no nosso interior, inclusive gerando feridas, transformando-os em fardos leves pela ação misericordiosa do Senhor.  Assim uma paz inigualável se instala no nosso coração e nos leva à abertura ao outro de modo a viver a verdadeira caridade que “consiste em suportar todos os defeitos do próximo, em não se escandalizar de suas fraquezas e em se edificar com suas menores virtudes”[3].

Desse modo, o perdão e a reconciliação constituem meios que promovem a paz, reestabelecendo a unidade nas comunidades das quais fazemos parte, de modo que o ato de perdoar e se reconciliar deve acontecer “eu não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete vezes“[4], pois assim pedimos ao Pai todos os dias: “E perdoa-nos as nossas dívidas como também nós perdoamos aos nossos devedores”[5].


[1] AMORIS LAETITIA. Exortação apostólica pós-sinodal do Papa Francisco sobre o amor na família. São Paulo: Edições Loyola, 2016, p. 67.

[2] Cl 3,13 – Bíblia Tradução Ecumênica

[3] TERESA DE LISIEUX. Obras Completas, Escritos e Últimos Colóquios, São Paulo: Paulus, 2002, p. 191.

[4] Mt 18,22 – Bíblia Tradução Ecumênica

[5] Mt 6,12 – Bíblia de Jerusalém

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