O Evangelho deste IV Domingo da Quaresma reflete bem o significado do Sacramento da Penitência e da Reconciliação. Nele, vemos um filho que experimentou a decepção, a dor e as consequências pela opção que fez de se distanciar do Pai e, por isso, resolve voltar e pedir perdão e, por outro lado, o Pai que, entranhado de amor compassivo, anseia pela volta do filho a fim de reconciliá-lo Consigo e restituir-lhe a sua digna condição de antes de sair de casa: de filho amado.  

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Cada um de nós, de uma forma ou de outra é um filho pródigo. Seja em escolhas rotineiras e pequenas, seja em decisões determinantes para a nossa vida ou ainda quando resolvemos, mesmo professando a nossa fé no Deus Único, nos deixar ser levados pelo fragor das ondas das ideologias deste mundo, numa medida ou noutra, estamos nos distanciando da casa do Pai.

Para o filho pródigo, foi muito difícil retornar à casa do Pai. É possível, a partir do relato que Jesus faz, imaginar como esse jovem filho regressava após as suas perdas, decepções e, por que não dizer, vazio existencial. É possível imaginar que relutou, até tomar a firme decisão: “Vou ter com o meu Pai…” (Lc 15,18a); também se preparou para falar com o pai, ensaiando um discurso pelo caminho: “Pai, pequei contra o céu e contra ti…” (Lc 15,19) e até antecipou uma espécie de sentença para si mesmo: “Trata-me como a um dos teus servos” (Lc 15,19b)

Porém, qual não foi a surpresa desse filho quando o discurso ensaiado foi cortado pela atitude misericordiosa do Pai? “Ainda estava longe, quando o pai o avistou e foi tomado de compaixão: correu, se lhe lançou ao pescoço e o cobriu de beijos” (Lc 15,20).

Assemelhamo-nos a esse filho da parábola contada por Jesus não somente porque fazemos opções diárias pequenas ou grandes de nos separarmos do Pai, mas também porque, por uma razão ou outra, relutamos em voltar.

“Não se vai à confissão como pessoas castigadas que têm que se humilhar, mas como filhos que correm para receber o abraço do Pai. E o Pai nos levanta em cada situação, nos perdoa cada pecado (…) Deus sempre perdoa “.

As razões para essa relutância são várias: vão desde a vergonha por causa do nosso pecado, passa  pelo medo de sermos condenados, que pode ser um reflexo da educação religiosa que recebemos, até outras razões, como:  o orgulho, a escravização ao pecado, o descrédito em nós mesmos ou ainda o fato de estarmos enredados numa cultura de soberba e autossuficiência que atinge o homem num grau cada vez mais crescente.

O certo é que entravamos na dificuldade de trilhar a estrada da volta que nos é apresentada pela Igreja: o Sacramento da Penitência e Reconciliação, talvez até pelo fato de termos uma concepção equivocada sobre esse sacramento.

A esse respeito, esclarecedoras são as seguintes palavras do Papa Francisco, em 2021, durante discurso dirigido aos jovens da Eslováquia:   “Não se vai à confissão como pessoas castigadas que têm que se humilhar, mas como filhos que correm para receber o abraço do Pai. E o Pai nos levanta em cada situação, nos perdoa cada pecado (…) Deus sempre perdoa “.

Desse modo, para receber o abraço do Pai, precisamos sair de uma perspectiva legalista para a perspectiva do amor, ou seja, não nos confessarmos apenas para cumprir um preceito, mas porque verdadeiramente nos arrependemos de termos ofendido o Nosso Pai e termos rompido a comunhão com Ele (CIC 1440).

Porém, até para nos arrependermos, precisamos pedir ao Espírito Santo a fim de que, assim como o filho pródigo, possamos também nós ter o coração compungido de dor por termos ferido o coração do Pai. “Pai, pequei contra o céu e contra ti…” (Lc 15,18b).

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